Mas não serão as memórias vagos impulsos eléctricos dispostos em teia numa matriz tão carnal, tão humana e tão crua? Talvez para uns, aqueles que não acreditam numa natureza anímica do mundo, aqueles que perderam a imaginação ao longo da sua passagem pela dura realidade, tão austera. Esses seres, os abusivamente racionais, nunca se deixaram sonhar à sombra de um flagelo que estalava nas costas da mente ao brotar de cada tentação. Eu, Tomás de Esparta, tentei ser um deles.
Nasci na estranha cidade de Nébula, onde vivi parte da minha infância. Perderia horas a fio a contar-vos tudo aquilo que me lembro de Nébula, mas não foi para isso que esta folha de papel foi transformada numa carta. De espartano não tenho mais que o nome, visto que a minha constituição física sempre foi débil, e talvez por isso os meus pais tenham trocado o ar pesado e sulfuroso de Nébula por uma cidade mais límpida do interior. Foi aí que estudei e, embora a minha inteligência nunca tenha sido mais que mediana, destaquei-me nas pautas como um qualquer génio faria. Tudo graças à minha fértil memória. Formei-me em Direito há vinte e três anos e tive uma afortunada carreira profissional. Apesar de todo o meu sucesso, nunca consegui manter uma relação estável devido a uma severa desordem mental de que sofro e vos contarei em breve. Com os anos, acumulei uma estranha dificuldade de actualizar os meus conhecimentos, facto que atribuo ao mesmo problema. Um terceiro estigma que me atormentou foi um terror constante, um pavor em estar sozinho ou em aventurar-me na escuridão, um pânico de infante. Eu cresci, mas algo nunca mudou. Eu, Tomás de Esparta, tenho a memória mais perfeita que já surgiu na história do Homem. Dote ou maldição, sou infalivelmente incapaz de esquecer."
(to be continued...)
Hatecraft.
Música do dia: http://www.youtube.com/watch?v=F2i1dinm3UE
Passo por aqui só mesmo para dizer que a minha inspiração anda a zero. Zero.
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