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quinta-feira, 25 de março de 2010

Ascetic rites (31)

Morte a Eros
Morte a Thanatos
E eu ergo-me
E o meu espírito.

Hatecraft

quinta-feira, 18 de março de 2010

Silver Maiden/Bane (30)




São, pois, dois poemas antigos. E intemporais!

Uma mulher de prata
Vagueia no neurónio mais interior
Do cérebro de um trovador
Numa escolha imediata.

E o trovador bloqueia
Todas as ondas luminosas
Para se focar na ideia
Das suas mãos venenosas.

Mas o trovador, alimentado de impulsos nervosos,
Guerreia o seu clã, num poema trágico.
Percorrendo os seus Vasos Esperançosos,
Um ténue colóide hemorrágico.

Mas o trovador trovará no futuro
Ao ouvido da dama prateada
Num tom áspero, seco e duro
A vida da sua amada.

Hatecraft.

Caiste como uma sombra na minha alma, tu, ao dobro da aceleração que a gravidade te confere.

Blocos de veneno
Desprendem-se da Lua,
Sendo o mais pequeno
Uma lágrima tua.

Depositando-se na minha alma,
Corrói-me os traços demarcados
A caneta, com calma,
E liberta-me dos pecados.

Escrito em runas negras,
No meu intelecto incolor,
O teu nome, as tuas regras,
As tuas palavras e o teu sabor.

Tu desces, alada, contrais e sorris
E eu limpo as últimas lágrimas
Que escorrem tristemente, vis.
Tu dizes-me duas rimas:

"Reclama-me como tua,
Vivamos, morramos, vem!
Abraça a minha pele nua,
Serei tua refém."

Tomo-te, então, entre os dedos
Agarro-te, e levo-te comigo.
Renasço, agora sem medos,
Em ti encontrei um abrigo.

Hatecraft.

Eis o meu lado romântico, eis eu, e a minha Cris.

Frase do dia: «It is the greatest mistake to think that man is always one and the same. A man is never the same for long. He is continually changing. He seldom remains the same even for half an hour.» (G. I. Gurdjieff; In Search of the Miraculous)

Música do dia: http://www.youtube.com/watch?v=I438RH1oUJc

Pergunta do dia: E vocês, já completaram a vossa vida? Por que esperam?

quarta-feira, 17 de março de 2010

Noite produtiva desinspirada 4 (29.4)

I

Um sonho na floresta,
No vento que me ergue
À Lua
E uma besta
Incansável persegue
Uma Deusa nua.

II

A mente cai, sonha,
E o corpo flutua entre
As árvores e no ventre
De uma nébula
Branca, fofa e dispersa
E ouve-se uma conversa.

III

São as flautas que cantam
As lendas dos sonhadores
Que ante mim se levantam,
Que jazem hoje elevados
Nos céus dos que amores
Colheram nos cedros entrelaçados
Desta floresta.

IV

Árvores ocas de ilusão,
Os vossos ramos nos indiquem
Aos céus negros de cristal
E erguem-se as vozes num ritual
Comprometidos, mão com mão,
Neste sonho na floresta.

Hatecraft.

Se gosto do que escrevo? Nem um pouco. O que não me impede de o fazer.

Noite produtiva desinspirada 3 (29.3)

O mundo é tão solitário!
Pousa-se no ombro uma mão,
Um sorriso trespassa-me.
Não, solitário não,
Porque cinco pessoas fazem um mundo.

Este dorme pensando,
À direita pensam sonhando,
Um carrega os três
E o quinto é cego.

Hatecraft.

Noite produtiva desinspirada 2 (29.2)

O meu futuro esconde-se
Para lá de um pálido espelho.
A mão, curiosa, pergunta
Se algum dia serei velho.

Hatecraft.

Noite produtiva desinspirada (29.1)

Para lá da fronteira do sorriso
Encontram-se dentes amarelos,
Pútridos. Ainda assim belos
São os lábios carnudos.

Hatecraft.

segunda-feira, 15 de março de 2010

From lemurian depths (28)

Em mim só brilha a ignorância, porque o resto, esse jaz oculto para quem o quiser procurar.

Música do dia: http://www.youtube.com/watch?v=tu-hXQnuixk

domingo, 14 de março de 2010

Hexentanz (27)




Quando a contraparte do corpo, a alma - intelecto e emoção - se projecta deste, cria-se um sonho. Os sonhos são um dos nutrientes que correm na corrente de sangue que é a vida, em torno do mundo, uma corrente constritora, sem a qual não haveria que constringir. E é destes sonhos que é feita a matéria da vontade. Não, não são os sonhos um repouso da consciência, são um segundo patamar desta, porque os sonhos não são apenas um espelho turvo do dia, são uma desfragmentação do vivido para que nos possamos erguer - em alma - na noite, para dominar o dia.
Haja uma chave gnóstica, não é longe dos sonhos que ela se encontra, e é no fluxo de um sonho que nos é dito quem levar pela mão, a quem abraçar, por que lutar, onde está o nosso caminho, onde nasce um novo rumo para uma vida à partida tão sem-sentido. É o que há para lá da porta trancada noite após noite. É a recompensa de quem acredita que um sonho merece um segundo olhar, o olhar de olhos fechados.

O sentido, esse está nos sonhos.

Música: http://www.youtube.com/watch?v=BBZsbKFs-j8

Apatia (26)




Dão-te um comprimido que reprime os sentimentos. Quer queiras, quer não, não tens sentimentos. A única coisa que sentes é uma vontade enorme de os ter de volta, de acabar com a apatia. Afastas tudo. Afastas todos. Ninguém te quer, porque não sentes, e por não sentires, não queres ninguém. És uma máquina e vives uma vida branca e dura. Mas há algo em ti que quer os sentimentos de volta, desespera por eles. O desespero é tão grande que consegues ter os teus sentimentos de volta! Olhas em torno de ti, não vês ninguém. A primeira coisa que sentes é solidão.

Gritas?

Duas mãos femininas estendem-se para ti.

Música: http://www.youtube.com/watch?v=lsRqgek0Gr8

quinta-feira, 11 de março de 2010

Insatisfeito (25)




Não chega.
Não chega o esforço.
Não chega o tempo, aquele tempo, o tempo que eu quero, e duas semanas ainda se arrastarão morosas.
Não chega o que há na Terra, não chega a humanidade ao que há para lá dela.
Não chegam as palavras que me dizes ao ouvido. Elas chegam, mas não chegam. Chegam ao ouvido, mas não são suficientes, não chegam.
Não chega a forma como a humanidade se agarra ao mundo, porque não percebem que a humanidade não chega para o mundo.
Não chega saborear o dia.

Nada nunca chega, porque a exigência é o meu pecado.

E eu nunca chego a mim.

Frase: "Arise, O Man, in thy strength! the kingdom is thine to inherit." (Aleister Crowley, The Pentagram) O man, o nordic man.

Música: http://www.youtube.com/watch?v=q_mGZ-8dxVc

quarta-feira, 10 de março de 2010

Samishi (24)




Abro uma porta já negra e para lá dela há um parede ainda mais negra.

Eu pergunto: "E sou eu, o problema?"

A parede responde-me - "És, pois. A fonte de todos os problemas."

"Eu só perguntei se eu era o problema."

Música: http://www.youtube.com/watch?v=2PVqnDbu5UE

segunda-feira, 8 de março de 2010

Cosmicista (23)

Um ínfimo abanão -
Vira a Terra do avesso.
Lixo vertido no chão -
Pára o mundo
E eu estremeço.

Mas que doce fragilidade!
Mas que humana sensibilidade!
A desta blasfema orbe,
Que gira ainda com a minha morte...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Eu não eu - Whatever. (22)




É indiferente

Quando a mão, posta no meu ombro
Queima a carne, queima viva;
Quando a angústia se ergue dos escombros,
Sorrindo, altiva.

É indiferente
Quando nasce um, ou morre gente -
Pobres, humanos, carnais -
Não mais, nem menos que animais,

É indiferente
Quando os rebanhos se passeiam
(que é gente, mas em cadeia)
Porque eu sou tolo e sou doente.

É indiferente
Quando se escondem as verdades,
Porque os pensamentos são tempestades
E esses são metade alma e metade corpo,
Os pensamentos.

Eu sou indiferente.

Hatecraft.

Música: http://www.youtube.com/watch?v=R-4BthN-TjA

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tempestade negra (21)



Ouço o sangue a correr nos ouvidos
E sinto a folha a fugir da mão.
É assim quando se fecha os olhos
E se escreve com o coração.


Hatecraft.

É quando as palavras são escritas, quando a fibra da pena tinge o pergaminho, que as vejo feias, tão feias…
Aí, eu penso, “Não foram as palavras também inventadas pela humanidade?” Quem as criou, associou-as a algum quadro estético ao qual os poetas devem recorrer, com um olho, enquanto o outro pega na caneta? Não pode um texto ser bonito com uma palavra feia? Pode pois. E tudo o que eu digo é verdade, porque digo-o eu a mim mesmo.
Pessoalmente, quando escrevo, estou possuído. Perco aqueles minutos da minha vida para uma outra entidade e, quando finalmente abro os olhos, ou mos devolvem, posso contemplar a amargura materializada em tinta negra, ainda a escorrer fria e espectral pelas linhas
Se me preocupo com o tempo sacrificado para um fim tão cru, tão insípido?

Não. Eu preciso de frustração.

Noutras notícias, apresentam-se dois caminhos à minha frente. Após todos estes negligentes anos, tenho dois segundos para me decidir.

Solidão, doce solidão, tão confortável, tão amena, longe de ti brota o desespero da satisfação.

Música: http://www.youtube.com/watch?v=f5PhdWiWMqQ

quarta-feira, 3 de março de 2010

Namida (20)


Dois olhos. Duas gotas de sangue.
Uma escorre para a esquerda, outra para a direita.
A da direita, pára e esmorece, evapora.
A da esquerda corre direita para o coração, onde a mão a espera e cuidadosamente devolve ao saudoso olho.

Queridas lágrimas.

http://www.youtube.com/watch?v=QUs3i9oCs3U

terça-feira, 2 de março de 2010

Memórias (19)

"As memórias flutuam sempre no oceano de vácuo que se expande no imaginário. Sempre, porque só somos desde que temos memória, e porque nos lembramos de elas lá terem estado desde o Sempre, como as runas deixadas pelos nossos anciães em raros templos a horrendas e viciosas divindades. A memória vive há tanto tempo nas nossas mentes quanto Munnin no ombro de Wotan.
Mas não serão as memórias vagos impulsos eléctricos dispostos em teia numa matriz tão carnal, tão humana e tão crua? Talvez para uns, aqueles que não acreditam numa natureza anímica do mundo, aqueles que perderam a imaginação ao longo da sua passagem pela dura realidade, tão austera. Esses seres, os abusivamente racionais, nunca se deixaram sonhar à sombra de um flagelo que estalava nas costas da mente ao brotar de cada tentação. Eu, Tomás de Esparta, tentei ser um deles.
Nasci na estranha cidade de Nébula, onde vivi parte da minha infância. Perderia horas a fio a contar-vos tudo aquilo que me lembro de Nébula, mas não foi para isso que esta folha de papel foi transformada numa carta. De espartano não tenho mais que o nome, visto que a minha constituição física sempre foi débil, e talvez por isso os meus pais tenham trocado o ar pesado e sulfuroso de Nébula por uma cidade mais límpida do interior. Foi aí que estudei e, embora a minha inteligência nunca tenha sido mais que mediana, destaquei-me nas pautas como um qualquer génio faria. Tudo graças à minha fértil memória. Formei-me em Direito há vinte e três anos e tive uma afortunada carreira profissional. Apesar de todo o meu sucesso, nunca consegui manter uma relação estável devido a uma severa desordem mental de que sofro e vos contarei em breve. Com os anos, acumulei uma estranha dificuldade de actualizar os meus conhecimentos, facto que atribuo ao mesmo problema. Um terceiro estigma que me atormentou foi um terror constante, um pavor em estar sozinho ou em aventurar-me na escuridão, um pânico de infante. Eu cresci, mas algo nunca mudou. Eu, Tomás de Esparta, tenho a memória mais perfeita que já surgiu na história do Homem. Dote ou maldição, sou infalivelmente incapaz de esquecer."

(to be continued...)

Hatecraft.

Música do dia: http://www.youtube.com/watch?v=F2i1dinm3UE

Passo por aqui só mesmo para dizer que a minha inspiração anda a zero. Zero.